HISTÓRIA DO MOVIMENTO ADVENTISTA EM PORTUGAL

Estava-se sem Setembro de 1904, quando um jovem missionário norte-americano, Clarence-Rentfro, sem quaisquer conhecimento da nossa língua, aqui aportou. Não esqueçamos que Portugal era ainda uma Monarquia, por sinal então já bastante contestada, e com o peso do catolicismo ainda bem arreigado nas consciências. Tendo em consideração tais dados, imagine-se as dificuldades que Rentfro iria experimentar para assentar os primeiros fundamentos da Igreja, neste recanto da Europa ocidental

Em Junho de 1906, uma primeira Escola Sabatina teve lugar em casa de Lucy Portugal, uma senhora de origem inglesa, viúva do conhecido cantor de ópera português da época, António Portugal. Ela e três membros de uma tal família Figueiredo tornaram-se os primeiros membros da Igreja quando, três meses depois, foram baptizados na praia de Carcavelos.

Era esse o humilde arranque da que seria a Missão Portuguesa integrada num União Latina e que em meados dos anos vinte passaria a formar com a Espanha uma União Ibérica. Os primeiros membros começaram por se reunir na Rua de S. Bernardo à Estrela, 120, mas as mudanças de local de culto foram então algo frequentes. Seria preciso esperar por Novembro de 1924 para se inaugurar o que foi o primeiro Templo digno desse nome no país. (Estamos a falar da instalações onde hoje funciona a Igreja Central de Lisboa).

Inevitavelmente foi necessário, nesses primeiros anos, receber o apoio de missionários estrangeiros. Por cá passaram o Pastor brasileiro Ernesto Schwantes que iniciaria o trabalho na cidade do Porto entre 1906 e 1910, os Pastores suíços, Paul Meyer de 1910 a 1924, e Jules Genin, com passagem efémera nos anos de 1924-25. Poderíamos ainda mencionar os Pastores britânico H. Lowe (director de 1925-28) americano Harry Neuman (1930-37) e grego A. Girou (1939-1941).

Quanto à integração de obreiros nacionais, ela foi sendo feita desde cedo. Curiosamente, o ano em que Salazar conseguiu impor a Constituição do Estado Novo, ou seja, 1933, foi o ano em que o Pastor Dias Gomes se tornou o primeiro nacional a dirigir a Missão Portuguesa (o Pastor Alberto Raposo tivera essa experiência entre 1928-30, mas interinamente). Em 1935, a Missão passa a Conferência Portuguesa. Aliás, nesse mesmo ano seriam aprovados, oficialmente, os estatutos da organização adventista em Portugal. As dificuldades criadas pela Guerra Civil no país vizinho conduziram à dissolução da União Ibérica e à criação de uma União Portuguesa (Setembro de 1930), que incorporaria os campos da Conferência Portuguesa e as Missões da Madeira, Açores, Cabo Verde e São Tomé.

A actividade da Igreja, que, durante os primeiros anos, se limitara apenas à capital e ao Porto, foi-se estabelecendo em cidades como Portalegre e Tomar nos anos 20, em Coimbra, no Barreiro, Vila Real de Santo António e no Funchal durante os anos 30. Com os anos 40, a Igreja iria irradiar o seu trabalho para novos lugares como Setúbal, Nisa, Faro, Avintes e Canelas.

O número de membros que, no inicio dos anos 1930, era de apenas 228, atingiria o meio milhar no espaço de uma década e ultrapassaria a barreira do milhar ao chegar-se aos anos 50. Claro está que poderíamos acrescentar os irmãos que iam sendo conquistados nas Missões do Ultramar, à época incluídas no espaço da União Portuguesa. Ao comemorar-se o cinquentenário (1954) seriam 2003 os membros baptizados nesse espaço alargado, reunidos em 21 igrejas.

Marco histórico que não se pode ignorar na evolução da Igreja em Portugal é o ano de 1974, com a chegada de muitos membros das antigas colónias ultramarinas, os quais, de algum modo, vieram contribuir para o incremento do movimento adventista no país. Hoje, passados outros 50 anos na História do Movimento, são mais de 120 as igrejas e grupos, com cerca de 15.000 membros e simpatizantes a darem testemunho da sua fé.

Retomando a lista dos Presidentes da União Portuguesa, regista-se em 1950, o final do mandato do Pastor Dias Gomes, que se manteve 17 anos na Missão e Conferência e 8 na União. O cargo foi depois confiado ao Pastor Ernesto Ferreira, que iria presidir aos destinos da Igreja em Portugal por três mandatos (o 1º até 1957, um 2º de 1969-74 e um 3º de 1977 a 1979). Não podemos omitir as figuras dos outros presidentes nas pessoas dos Pastores Pedro Ribeiro (1958), Armando Casaca (1959-1969), António Baião (1976-77), Joaquim Morgado (1979-1992), Joaquim Dia (1992-97), Mário Brito (1997-2006) e, por fim, o actual presidente José Eduardo Teixeira.

Estruturada em Áreas de Departamentos (como a do Evangelismo, Escola Sabatina e Ministérios Pessoais; da Mordomia; das Publicações; da Saúde e Temperança; da Educação; do Lar e Família, Mulher e Ministérios da Criança ou da Juventude), e em Associações e Instituições, a Igreja tem desenvolvido intensa actividade ao longo destes anos, na prossecução da obra que ao remanescente foi confiada e cuja conclusão, estamos convictos, não tardará.
MARANATA

Dr. Horácio Caprichoso
Historiador, professor reformado